Nasci em 1961.
Era um tempo diferente.
Dizer que era melhor ou pior é muito
relativo, pois algumas coisas eram muito melhores mesmo, entretanto, naquela
época também havia coisas piores.
Me tornei adolescente em uma época
mágica de poesia, romantismo, inocência e pureza e tive a alegria de vivenciar
capítulos inesquecíveis da minha vida, envolvido neste doce cenário.
As responsabilidades vieram muito
prematuramente, desde criança já trabalhava e sentia um grande orgulho porque o
fruto do meu trabalho contribuía de maneira importante para que meus pais
conseguissem pagar as contas no final do mês.
Fui crescendo e sofrendo as primeiras
decepções. Primeiro a frustração amorosa, com a primeira paixão, depois as
frustrações profissionais, onde os sonhos escaparam pelo vão dos dedos das
mãos, justamente no momento em que eu sentia que eles estavam mais próximos de
tornarem-se realidade.
E impulsionado pela necessidade de
sobreviver às intempéries da vida, fui aprendendo a me levantar à cada novo
tombo que levava.
O corpo (e a alma) foram adquirindo
cicatrizes e fui desenvolvendo um mecanismo de defesa para enfrentar as
pancadas que a vida dava, muitas das vezes de forma totalmente inesperada, a
diferença é que eu não era mais pego de surpresa, porque passei a ficar num
constante estado de “sobreaviso mental” para sofrer menos.
E passaram-se os anos, as décadas, até
que cheguei aqui.
Foram seis décadas de aprendizado, de
experiências e de lutas diárias buscando muitas das vezes, reservas de forças
de onde eu jamais imaginei que existissem.
Hoje, família constituída, filhos
adultos, aposentado, embora continue trabalhando, consigo dar mais atenção para
mim e o mais importante, aprendi a me priorizar.
Adotei hábitos que estão fazendo muito
bem para mim, e os uso como parte de um processo de “desintoxicação de
condicionamentos mentais escravizantes”, que me sugaram muito as energias ao
longo destas décadas de vida.
Senti vontade de compartilhá-los e
agora o faço enumerando cinco deles a seguir:
Já não corro mais para atender o telefone
quando ele toca e eu estou fazendo coisas importantes do tipo: almoçando,
conversando com a família, lendo, falando nos meus rádios, descansando após o
almoço, brincando com minha gatinha Lilica ou ouvindo música. Estes momentos,
cuja importância negligenciei durante décadas, agora para mim são mais
importantes do que qualquer telefonema, por isso eu os curto intensamente.
Depois, com calma, pego o telefone, vejo quem ligou e dependendo da importância
da ligação eu retorno, dependendo da situação, eu simplesmente ignoro, (mas quem
faz o juízo deste grau de importância sou eu, somente eu).
Já não me preocupo muito mais em
agradar a todos. Descobri que isso é absolutamente impossível e qualquer
tentativa neste sentido é absolutamente infrutífera. Neste sentido, adotei a
técnica de simplesmente ignorar aquelas pessoas que não me fazem bem, cuja
presença me traz aquele “aperto no estômago”. Sem brigas, discussões ou
enfrentamentos desnecessários e perniciosos, simplesmente sigo meu caminho com
minhas regras, minhas prioridades e meus valores. Se a pessoa se afastar de mim
por causa disso, para mim isso já será um grande ganho, porque o que almejo
mesmo, é PAZ.
Estou procurando curtir muito,
intensamente, as coisas que gosto. As minhas paixões. Por exemplo: Ficar mais
de 30 horas num final de semana, dentro do meu “shack” (local onde pratico o
radioamadorismo, as comunicações na Faixa do Cidadão e a Radioescuta), se
tornou para mim um hábito muito saudável, me recarrega as baterias para a
semana toda.
Outro exemplo:
Ficar o dia inteiro na garagem, mexendo no meu Jeep ou saindo com ele para dar
uns rolês nas serras que circundam BH, me deixa em estado de “êxtase”
indescritível. Para ficar melhor ainda, levo alguns rádios para falar de lá do
alto, aí o prazer se completa.
Comecei a adotar uma prática
recentemente, embora neste caso, eu esteja com mais dificuldade de
aplicá-la:
Sempre fui muito saudosista,
muito nostálgico. Isso até há algum tempo atrás aparentemente não me
incomodava, não me fazia sofrer, porém agora, sinto que não está me fazendo
mais bem. Então resolvi deixar de me dedicar à estas viagens ao passado,
relembrando insistentemente cenários e situações que são sim memoráveis,
lembranças boas, trazem boas recordações. Mas já passaram, não vou conseguir
voltar lá para vivenciar isso de novo. Então estou colocando foco mesmo é no
presente, porque, como diz o ditado, “o futuro a Deus pertence”
E por último, estou aprendendo a curtir
minha idade. Chegar aos sessenta anos, deixar a barba (branca) crescer à vontade,
entrar em filas de caixas preferenciais no supermercado, estacionar em vagas
reservadas, não esquentar mais a cabeça com o cabelo despenteado, sair de
pijama no prédio para levar o lixo para a rua, descer as escadas do condomínio
de sandálias Havaianas e meias nos pés, isso traz uma liberdade sem igual, a
vida se torna mais leve e você se sente bem, muito bem!
É muito pouco provável que você tenha
conseguido chegar até aqui na leitura deste texto, se ainda não saiu dos “inta”
e já entrou nos “enta”.
Mas para você que chegou, finalizo com
apenas uma frase de minha autoria que retrata exatamente minha percepção sobre
meu momento:
“Posso até ter saudade de quando eu
tinha vinte, trinta anos, mas a saudade que tenho é das paisagens, cenários e
personagens vividos naquela época, porque gosto muito mais de mim agora com
sessenta.”