domingo, 4 de dezembro de 2016

INTELIGÊNCIA EMOCIONAL

Alfredo era um pequeno empresário do ramo alimentício.
A empresa, embora pequena, conseguia garantir à ele e sua família, os recursos financeiros necessários para levar uma vida de classe média baixa.

Casado há 30 anos, tinha na esposa Sueli, uma grande parceira na gestão do lar. Dedicada e honesta, fazia de tudo para conter as despesas, equilibrar as finanças da casa e ainda cuidava dos três filhos do casal: Mariana, com 25 anos, Márcia com quatorze e Paulinho, o caçula, com doze anos.

A vida caminhava num clima de normalidade.
Com as dificuldades de sempre, a família vivia uma vida equilibrada, apesar dos problemas comuns à tantas outras famílias.

Um dia, ao chegar de casa, Alfredo é abordado pela filha mais velha, Mariana, que lhe pergunta se haveria possibilidade da empresa ceder um estágio, mesmo que fosse não remunerado, para uma amiga de classe.

O curso estava chegando ao fim e sem o estágio obrigatório, a amiga não conseguiria se formar.

Imaginando que esta seria uma ótima oportunidade para aliviar um pouco a carga das suas incontáveis responsabilidades no setor contábil, Alfredo concordou e veio a contratar a amiga da filha, Flávia, como estagiária na sua empresa.

Flávia, dedicada e atenciosa, logo assumiu as responsabilidades à ela confiada demonstrando responsabilidade e comprometimento com a empresa.

Passaram-se oito meses sem nenhuma novidade no cotidiano da família. Apenas Alfredo parecia um pouco distante da família, vez ou outra era flagrado em silêncio, com o olhar perdido no horizonte, evitava os filhos, principalmente a mais velha, Mariana.

Em uma ensolarada manhã de sábado, Alfredo chama a esposa Sueli para uma conversa, a sós, no quarto do casal.

Sueli, preocupada, atende-o imediatamente. 
Vão até o quarto, sentam-se na cabeceira da cama e Alfredo, visivelmente nervoso e atormentado começa a falar:

- Sueli, nem sei por onde começar...
É difícil para mim, muito difícil! Mas não podia mais esconder de você. 
Estou apaixonado pela Flávia. 
Nós já saímos algumas vezes juntos, acabamos nos envolvendo emocionalmente.
Quero me separar de você!


A esposa, como se tivesse levado um tapa no rosto, fica muda e chocada.
Paralisada pelo impacto daquela revelação, tem vontade de chorar, gritar, esbofetear o marido, mas segura os ímpetos.

Respira fundo uma, duas, três vezes.
Levanta-se, vai até a janela do quarto, abre-a, respira o ar fresco que entra, reflete em silêncio sobre a notícia que acaba de receber.

Senta-se em uma poltrona, olha o horizonte pela janela, enxuga duas lágrimas que insistem em cair dos seus olhos e reage enfim àquela situação.

Dirige-se calmamente ao marido que esconde o rosto entre as mãos num sinal de grande  aflição e lhe diz:

- Pois bem Alfredo, o que você acaba de me dizer é muito grave e requer tomada de decisões imediatas para que a situação não fique ainda pior.

Entendido que você está se sentindo  seduzido por uma mulher que tem a idade da sua filha mais velha. 

Ela é uma moça muito bonita, na flor da idade e tem atributos que certamente despertaram em você esta atração, é compreensível.

Agora vamos analisar o fato sob a ótica das consequências à que você está sujeito, caso leve adiante este seu plano de separação.

Temos cinco pontos importantes que precisam ser considerados e sobre os quais você precisa refletir:

A receita obtida na empresa, com muito sacrifício, ainda consegue manter nossa família em uma condição de razoável conforto. Você já fez as contas? Conseguirá manter duas famílias?

É certo que nossos filhos optarão por permanecer comigo, sobretudo os dois menores e desta forma eu ficarei aqui na casa com eles. Você já tem outro lugar para ficar?

Marcinha está em uma fase crítica. Fase em que as referências familiares são essenciais para a sua formação. Você sabe o quanto ela é apegada à você e que sua saída poderá resultar em sérios problemas de ordem psicológica para ela. Está preparado para todas as consequências que muito provavelmente virão? Enfrentará isso com naturalidade e equilíbrio?

Paulinho tem em você o modelo do pai perfeito. O "Super Homem" que todos os dias brinca de bola com ele, auxilia-o nas tarefas do colégio, que o leva ao estádio e o busca na escola. Está preparado para o impacto que sua saída de casa causará tanto à você quanto à ele?

Quanto à mim, por mais que isso me doa, me cause decepção e tristeza, respeitarei seu livre arbítrio e procurarei tocar minha vida. É evidente que depois desta confissão nossas relações estarão cortadas. Você tem uma semana para se decidir o que quer da vida e dentro deste período dormirá no quarto de visitas. Explique-se aos filhos, caso perguntem o motivo. 

Ah! já ia me esquecendo, dentro de uma semana vamos juntar todos eles para você explicar a situação principalmente para a Mariana, afinal, foi com a amiga dela que você se envolveu.
Não importa qual seja sua decisão, quem comunicará à eles será você, não eu, correto?

Disse isso e saiu. Entrou no banheiro, abriu o chuveiro e chorou convulsivamente.


Alfredo, a partir daquele dia passou a viver os piores dias da sua vida.

Ao encontrar com a filha Mariana, desviava os olhos dela, com vergonha de encará-la. 

As brincadeiras com o filho já não tinham a mesma alegria e descontração.

A filha adolescente, Marcinha, já notava os sinais de distanciamento do pai. Sem nada entender, já começava a apresentar sinais de melancolia e tristeza.

A esposa lhe dirigia apenas as palavras imprescindíveis, não abria espaço para diálogo.

No trabalho, descontrolado emocionalmente, Alfredo mostrava-se irritado e impaciente com os empregados, inclusive com a própria Flávia.

Na sexta-feira, último dia para que ele se decidisse, procurou a sua estagiária Flávia, chamando-a ao seu escritório.

Ela, como sempre, vestida com roupas provocantes, muito perfumada e cheia de trejeitos foi chegando devagarinho à sala de Alfredo e o encontra com semblante tenso, demonstrando muito nervosismo.

Alfredo, embaraçado,  começa a falar sobre a conversa com a esposa e ela nem o deixa continuar, interrompe a fala dele e retruca exaltada:

- Fala verdade, "Seu Alfredo", o senhor pensou mesmo que eu estava a fim de ter um caso  com o senhor a ponto de querer se separar de sua esposa e ficar comigo? Fala sério ! O senhor tem idade para ser meu pai ! 

E mais, o simples fato da gente ter saído algumas vezes juntos para jantar já levou o senhor a entender que estávamos emocionalmente envolvidos? Saí com o senhor mais por educação, por ser o meu patrão e pai da minha amiga, só isso. Nunca me passou pela cabeça ter nada com o senhor.

E para falar a verdade, antes que que a Mariana saiba disso e este assunto renda, estou indo embora. Obrigado pelo trabalho e pelo estágio, mas não tenho mais condições de ficar na empesa não.

Disse isso, levantou-se e saiu rapidamente sem nem olhar para trás.

Alfredo, boquiaberto com a situação, ficou ainda mais perdido e confuso com a situação.


Reflexões sobre esta pequena história:

Alfredo, embora pai de família, casado há 30 anos com Sueli, com três filhos, sentiu-se seduzido por uma jovem com idade para ser sua filha. Atraído pelos dotes físicos da moça, deixou-se levar pelo instinto, criando fantasias que acabaram bloqueando seu senso de razão. 
Toma então uma atitude impensada que coloca em risco toda a sua vida matrimonial.


Flávia, jovem e "desencanada" queria apenas fazer seu estágio, terminar seu curso e seguir a vida em frente. 
Foi convidada para jantar algumas vezes com o patrão e foi para ser gentil, mas em momento algum alimentou algum sentimento com relação a Alfredo. 
Foi ingênua sim, mas em momento algum teve outras intenções, até porque era amiga da filha de Alfredo e valorizava esta relação.
Ao perceber a "encrenca" que estava prestes a se meter, não hexitou em cair fora do cenário.


Agora, Sueli, esta sim, foi o grande destaque desta trama.

Mesmo chocada com o impacto da revelação do marido Alfredo, manteve controle emocional, conservou seu equilíbrio, refletiu e somente depois se pronunciou.
Demonstrou uma inteligência emocional admirável, analisando a questão de forma racional e coerente.
Fez o marido enxergar todas as consequências, fez com que ele refletisse sobre o quanto custaria para ele aquela tomada de decisão, fez com que ele saísse do seu universo de fantasias e voltasse para a realidade.


Refletindo agora sobre a conclusão da nossa história, podemos dizer que muito provavelmente Alfredo teria chamado Flávia para desligá-la da empresa, contou a história toda para ela para se justificar.

É muito provável que após a conversa com Sueli, que ele tenha acordado para a realidade e percebido a besteira que iria fazer.

Mas.....esta história somente não teve um desfecho dramático porque, no momento em que Alfredo manifestou seu desejo de separação, Sueli teve controle da situação, teve INTELIGÊNCIA EMOCIONAL.

Vale a pena refletir sobre quantas situações embaraçosas foram potencializadas pelo nosso destempero emocional, gerando dramas e sofrimentos porque faltou em nós CALMA, EQUILÍBRIO, PACIÊNCIA, COERÊNCIA, SENSO DE RAZÃO, ENFIM, INTELIGÊNCIA EMOCIONAL ?








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