Gostava muito de morar neste bairro, tinha amigos, um trabalho que me garantia o sustento da família, morava em um apartamento bem posicionado, com vistas para o Pico do Jaraguá, amava aquela situação e fazia planos para o meu futuro na capital paulista.
Trabalhava intensamente em uma casa Espírita no mesmo bairro, fazia palestras em toda grande São Paulo, me considerava muito feliz.
Um dia veio a adversidade, a perda do emprego, apenas quinze dias após o nascimento do meu terceiro filho.
Como consequência vieram dias de muito sacrifício e sofrimentos, culminando com a perda do meu apartamento que comprei com tanto sacrifício e era meu sonho.
Foram mais de dez anos de intenso trabalho para conseguir comprá-lo e "foi tudo por água abaixo" (não consegui mais pagar e o banco me despejou).
Tive que retornar para minha Cruzeiro desempregado, sem ter onde morar, com três filhos ainda pequenos.
Mas a vida foi prosseguindo, outras dificuldades vieram, outros desafios aconteceram, mas nunca perdi a fé, a certeza de que Deus estava no comando de todas as coisas.
Tudo mudou, a vida acabou tomando rumos absolutamente inusitados e a consequência é que em função dos novos rumos as coisas foram se encaixando de forma diferente e inesperada.
A conhecida frase que "Deus escreve certo por linhas tortas", na minha vida foi sempre uma constante.
Hoje não tenho a profissão que sempre sonhei e também não moro onde eu gostaria de morar.
Fui levado pela vida a voltar para Cruzeiro (cidade que adoro) e no momento em que começava a me restabelecer, perco de novo o emprego (esse sim era dos sonhos porque fazia o que eu gostava).
E aí nova mudança para uma cidade estranha, longe da família, dos amigos. Cidade que para mim não diz nada do ponto de vista da simpatia e do " me sentir à vontade". Nunca consegui me sentir "em casa" em BH.
Mas olho para trás e vejo minha filha formada na UFMG, casada com uma pessoa do bem que a ama e faz tudo para que ela seja feliz.
Olho para meu filho mais velho com a profissão que lhe parece a mais adequada, pela personalidade dele.
Olho para minha esposa que gosta da cidade e se sente bem.
Observo meu filho caçula encaminhando-se também para a vida.
Vejo que mesmo diante de todas as dificuldades, nossa família prossegue unida e nunca nos faltou o necessário para nossa sobrevivência.
É inevitável, quando venho para São Paulo, ficar pensando e me perguntando o motivo das coisas não terem dado certo por aqui e da razão de eu ter perdido tudo do pouco que eu havia conquistado, aqui nesta cidade que tanto gosto.
É impossível não sentir aquele "aperto no coração" quando olho para os lados do prédio onde ficava meu apartamento que tanto sonhei e gostava e observá-lo sendo moradia de pessoas estranhas a mim.
Mas é impossível também não olhar quantas bênçãos Deus derramou sobre minha vida ao longo desses vinte anos que se passaram desde o ocorrido.
E a reflexão que isso me traz é:
Podemos e devemos fazer planos para a nossa vida, mas invariavelmente eles sempre serão alterados por uma força maior, em alguns momentos.
A alteração na rota da nossa vida sempre terá o propósito de nos reconduzir para os caminhos que foram traçados para o cumprimento da nossa missão, dos compromissos assumidos na eapiritualidade antes mesmo de nos reencarnarmos.
A resiliência precisa ser desenvolvida em nós como premissa básica para assimilarmos os golpes da vida sem parecermos vitimados pelo desânimo, pela frustração, pela melancolia das decepções.
O foco nos bens e nas conquistas espirituais, como prioridade sobre as coisas materiais é imprescindível para conseguirmos lograr êxito nesta empreita.
E finalmente, a fé nos desígnios de Deus deve ser fortalecida de forma raciocinada, para que consigamos enfrentar a razão frente a frente em todos os dias da nossa existência.
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