É comum estabelecermos um peso de gravidade e sensibilidade aos nossos problemas superdimensionando-os e os considerando muito mais graves e complexos do que os problemas alheios.
Assim, reclamos que a comida está sem tempero e muitas das vezes fazemos deste fato um estopim que explode em desequilíbrios emocionais comprometendo o equilíbrio de todos que nos rodeiam no ambiente doméstico.
Esquecemos que à poucos quarteirões de nossa casa, com certeza existirá um irmão nosso revirando os lixos em busca de restos de comida muitas das vezes já em decomposição, com o objetivo de aplacar a terrível fome que o martiriza.
Reclamamos que nosso colchão está duro, desconfortável e velho.
Fazemos disso um drama e atribuímos à este fato o nosso mau humor do dia seguinte, porque supostamente não tivéramos uma boa noite de sono.
Olvidamos que nas calçadas, sobre as sujas e frias marquises, irmãos nossos tentam dormir diante de todos os riscos que os ameaçam.
Deitados sobre farrapos malcheirosos, papelões úmidos, compartilhando o espaço com toda espécie de sujidades, clamam muitas das vezes, apenas por um pedaço de plástico que minimize o desconforto da chuva sobre seus corpos.
Registramos reiteradas queixas com relação aos problemas que nos perturbam no nosso labor diário, repercutindo muitas das vezes em quadros de esgotamentos físicos e mentais.
Ignoramos, entretanto que neste exato momento, muitos pais de família estão entregues às lágrimas, prestes à explodir em desespero por não terem um centavo no bolso sequer para comprar o leite do filho já subnutrido, que chora e lamenta a dor insuportável da fome.
Assim, antes de reclamarmos da condição em que atualmente vivemos e lamentarmos com azedumes e revoltas diante dos problemas que nos afligem, olhemos em volta e enxergaremos uma multidão de famintos, estropiados, adoentados e solitários.
Não nos esqueçamos que todos são nossos irmãos de jornada que hoje enfrentam sofrimentos nunca por nós sequer imaginados.
É necessário que reflitamos e substituamos as lamentações vazias pelas ações efetivas na prática da caridade.
Tomemos a inciativa sublime de abrir nossos corações e estender as mãos ao próximo que clama pela nossa compaixão.
E agradeçamos incessantemente à Deus pelo privilégio de estar, neste momento, na condição de contribuir com nossa generosidade com aqueles que necessitam.
Desconhecemos o dia de amanhã e não temos nenhuma certeza de que no futuro, este papel não possa ser invertido e sejamos nós os necessitados, à mendigar um pedaço de pão.
Pirilampo
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