terça-feira, 22 de setembro de 2015

SOMOS MAIS FORTES DO QUE IMAGINAMOS


Corria o ano de 1980.
Eu servia o Exército no HCI de Itatiaia.
Com 19 anos, estava no vigor da minha juventude. Um belo dia fomos orientados a entrar em forma, logo de manhã após o café, com o uniforme de educação física.
Assim o fizemos e o 3° Sgt Valdeci nos informou que faríamos uma "corridinha mixuruca" até o SMI (outra unidade do exército na entrada do Parque Nacional de Itatiaia).
Seriam 10 km aproximadamente e os últimos 3 km com rampas muito acentuadas.
Ressaltou que uma viatura nos acompanharia para "recolher os frouxos" que não aguentassem. Informou, ainda, que a volta seria embarcada naquela mesma viatura.
Assim, após os aquecimentos e preparativos seguimos, vinte soldados comandados pelo Sgt Valdeci. No itinerário paramos em duas praças para "pagarmos 10 completas".
Dez flexões, dez pulinhos de galo e dez polichinelos, porque " a cadência não estava boa e tinha que melhorar".
A subida foi difícil, estávamos com as pernas doloridas e a respiração ofegante, mas ninguém foi para a viatura, mesmo com o sargento gritando o tempo todo: - "Se tiver algum frouxo aí, pode subir na viatura para não comprometer o ritmo da tropa"
Enfim chegamos.
Exaustos, arrebentados, pernas doloridas, mortos de cansados.
O sargento mandou que fizėssemos uns exercícios de relaxamento.
Liberou a tropa por 20 minutos, tomamos água, deitamos com as pernas para cima, descansamos. Precisamente 20 minutos depois, colocou a tropa em forma e disse: - Vocês estão de parabéns. Demonstraram persistência, se superaram na dificuldade, ninguém desistiu, a tropa chegou completa aqui, correndo comigo.
Todos nós estamos cansados, as pernas doendo e a maior vontade é subir nesta viatura para chegarmos logo ao quartel, tomarmos um bom banho e descansarmos.
Porém, eu tenho um desafio.
Vou voltar correndo, não vou subir na viatura.
Os que quiserem embarcar fiquem à vontade, podem sair de forma e subir na viatura.
Os que aceitarem o desafio de descer comigo, mantenham -se em forma. NINGUÉM SE MEXEU. Ele sorriu e disse: - Esses são meu soldados!
Antes de sairmos, orientou que se alguém "afrouxasse", que subisse na viatura, pois ela viria logo atrás. Se a ida foi difícil, a volta foi de um sacrifício indescritível.
Me recordo que diversas vezes quase desisti.
Estava tão cansado que o corpo não queria mais obedecer.
Tinha ânsia de vômito, a vista embaçava, as pernas ficaram " doces".
Mas olhávamos o sargento na frente, firme na cadência, estimulando que cantássemos o tempo todo e aquilo nos dava ânimo.
Os outros soldados também ali correndo firmes, um incentivando o outro, isso era um motivo forte para prosseguirmos adiante. Enfim enxergamos o quartel e logo após adentramos.
Os oficiais e praças estavam alinhados após o portão, perfilaram-se e prestaram continência à tropa (neste momento parece que todas as nossas baterias recarregaram-se instantaneamente).
Depois, entramos em forma e nosso comandante, Ten Edvino Jung falou conosco:
 - Vocês hoje tiveram a oportunidade se provar para si próprios, que quando imaginamos estar no limite de nossas forças, ainda conseguimos tirar de nós energias capazes de muitas realizações.
Aprenderam que a persistência, a perseverança, o espírito de equipe, o exemplo da liderança, são capazes de gerar um espírito gerador de força, de coragem e de energia de superação que até vocês próprios desconheciam.
Este aprendizado de hoje servirá como exemplo para vocês pelo resto de suas vidas.
Parabéns a todos.
Depois do "fora de forma" tomamos um bom banho, descansamos o resto do dia orgulhosos e felizes. Hoje, 35 anos depois, compartilho esta lição que jamais me esquecerei.

(A.C.Arruda)

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