É comum nas Casas Espíritas, os expositores contarem um caso que já se tornou conhecido entre aqueles que apreciam as palestras.
É a história de um senhor, já na fase da sua terceira idade que, tímido e reservado, toda semana comparecia àquele Centro Espírita, naquele mesmo dia da semana, para assistir à palestra.
Assíduo, há anos ali comparecia.
Sentava-se nas últimas cadeiras, sempre no mesmo lugar, naquele cantinho da parede.
Chegava mudo e saia calado.
Sua timidez o impedia de interagir com os demais frequentadores.
Concentrava-se nas palavras dos expositores, prestava atenção em cada detalhe, absorvia cada segundo da fala do palestrante.
Ao final da palestra tomava o passe, a água fluidificada, pegava seu chapéu, colocava-o sobre a cabeça e seguia para sua casa.
Aquele anônimo frequentador daquele Centro Espírita adotava com rígida disciplina esta prática, sua assiduidade era impecável e assim o fez durante anos seguidos.
Num determinado dia, enquanto o orador mais requisitado daquela casa fazia sua palestra, notou aquela cadeira vazia. A partir daquela data aquele assíduo frequentador não foi mais visto nas palestras.
Passaram-se alguns meses e este mesmo palestrante, de oratória vibrante e empolgada, que à todos encantava com suas palestras acabou desencarnando de forma inesperada.
E ele, o expositor espírita, ao chegar no Plano Espiritual logo percebeu que desencarnara.
Não estava muito bem, sentia-se desequilibrado, o lugar era escuro e envolto em névoas.
Ouvia gemidos que não identificava de onde vinham, tinha a impressão que alguém o observava, sentia arrepios e até um pouco de medo.
Aquele não era o cenário que imaginava estar, quando desencarnasse.
Fechou os olhos, pôs-se em prece e pediu ajuda aos Espíritos de Luz para que o tirassem dali.
Assim que encerrou suas orações, ao abrir os olhos avistou alguém envolto numa luz muito forte, vindo ao seu encontro, para recebê-lo.
Seu coração se alegrou e os temores logo se dissiparam.
Na medida em que aquele espírito se aproximava, ele começava a perceber os contornos do corpo e o semblante daquele amigo que viera socorrê-lo.
Quando já estava bem perto, para sua surpresa, ele vê aquele senhor tímido e reservado que frequentava o Centro Espírita todas as semanas e que estivera centenas de vezes lá, quietinho, naquela cadeira do cantinho da parede, nos fundos do salão.
Ele chega sorridente, com o chapéu na cabeça, abre os braços e o envolve num aconchegante abraço, repleto de energias luminosas.
O palestrante, com lágrimas nos olhos o agradece, mas não se contém e lhe faz uma pergunta:
- Irmão, me perdoe a prepotência, mas por favor, preciso entender como pode isso acontecer.
Quando encarnado fui Espírita por mais de 40 anos, fazia palestras por todo o Brasil, tinha uma agenda lotada durante todo o ano.
Trabalhei incansavelmente pela Doutrina, na sua divulgação.
Agora chego no Plano Espiritual em um lugar escuro, macabro, creio ser o portal do umbral. Aí para minha surpresa vem o senhor aqui, envolto nesta luz toda me buscar, como pode ser isso?
No que aquele bondoso espírito lhe responde de forma humilde, com voz baixa e pausada:
- É simples irmão, tudo o que o senhor falava lá na frente, eu fazia.
O orador espírita, em lágrimas o abraçou novamente e entendeu a lição que acabara de receber.