Naquele dia João Bosco abriu o bar, como sempre o fazia, pontualmente às 9h da manhã.
O dia estava ensolarado, porém soprava uma brisa fria.
Ele abriu a porta da rua da frente, a rua principal, esticou o toldo e foi em direção à rua lateral (o bar ficava em uma esquina).
Ao abrir a porta lateral, observou que algo ali estava, bem rente à porta, na calçada.
Acabou de levantar a porta sanfonada até o seu limite e ao descer o degrau do desnível até a calçada, receoso observou que era um "despacho", e dos bons!
Uma galinha preta (que coitada acabou "pagando o pato"), uma garrafa de cachaça das "marvada" (bem que o "santo" preferia uma marca melhor), farinha (esta sim, das boas e temperada), velas preta e vermelha (seria o santo flamenguista?) e junto uma cumbuca de uma comida típica do nordeste (sarapatel?).
João Bosco se benzeu três vezes, rezou a "Salve Rainha" o "Credo", fez uma prece para São Bento e saiu logo dali, assustado, com o corpo em arrepios.
Passou o dia inteiro pensando na "macumba" ali encontrada.
Aliás, o dia todo, a noite toda, e mais o dia seguinte e a noite seguinte. Na verdade foram muitos os dias em que não conseguia pensar em outra coisa.
Comentou com a esposa, a sogra, a cunhada, os vizinhos, os fregueses do bar. Aliás, comentava com todo mundo que encontrava.
Dizia ele que não era à toa que as coisas não estavam indo bem na casa dele. Problemas de saúde com a família, problemas financeiros que o perturbavam, a freguesia cada vez mais fraca.
Era isso, algum inimigo devia estar preocupado com o barulho do bar, alguém o estava invejando, só podia ser isso.
Na verdade, ele até já tinha mais ou menos a idéia de quem deveria ser. Aquele vizinho da casa dos fundos. O "santo" dele nunca tinha batido com aquele antipático que o olhava com cara de mau. Sim, tinha certeza, era ele.
Preocupado com o tal despacho, ensimesmado com a cena daquela galinha preta e a cumbuca com sangue coalhado ao lado, perdeu o foco no balcão e os maiores atrativos do seu bar que era sua alegria e descontração, com os trocadilhos sempre inteligentes, deixaram de existir. Como resultado, os clientes começaram a se afastar.
Encucado com a "macumba" (que já não estava mais lá há semanas), negligenciou as compras para o bar e as cervejas especiais que os clientes tanto apreciavam começaram a faltar para os poucos clientes que ainda frequentavam seu bar.
Começou a comer pouco, dormir pouco, ficar deprimido e a resistência do organismo acabou sendo comprometida, ficou doente.
Um mês depois, com o movimento do bar fraco, com contas para pagar, doente e sem disposição para nada, resolveu visitar um Centro Espírita para consultar-se e afastar os efeitos maléficos do tal "despacho" que fora feito para ele.
Foi atendido no Atendimento Fraterno da instituição, com a recomendação de sempre: prece, recolhimento, passes e a prática da caridade.
Ao sair da sala, o orientador espiritual da casa se manifesta e comenta:
- Vejam todos vocês o que o ser humano encarnado é capaz de produzir para si mesmo, por conta da falta do conhecimento.
Espíritos aqui presentes, responsáveis pela solicitação do tal "despacho" nos informam que aquela oferenda somente estava lá porque aquela "encruzilhada" era a mais próxima para o ofertante.
E mais, afirmam que era uma oferenda apenas para solicitação de ajuda na solução de um problema que o ofertante estava tendo, nada tinha de mal na intenção.
João Bosco fora vítima de si próprio e do seu desconhecimento, causando ele mesmo os problemas que começaram a afligi-lo.
Conheça a Verdade e a Verdade vos libertará.
Conheça a Verdade e a Verdade vos libertará.
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