segunda-feira, 25 de julho de 2016

A USINA DA ALEGRIA

Nenhum de nós, ao menos enquanto estivermos neste planeta de Provas e Expiações, experimentará a sensação da felicidade absoluta.

Este estado de espírito somente será conquistado quando tivermos percorrido todas as etapas da evolução e atingirmos a classe de Espíritos Puros, onde não mais sofreremos nenhuma influência da matéria. 
Nossa superioridade moral e intelectual será absoluta e então gozaremos de absoluta felicidade (questão nº 112,113 de O Livro dos Espíritos).

No entanto, isso não significa que mesmo na nossa condição de espíritos imperfeitos e endividados, jornadeando por um planeta também imperfeito, que não possamos desfrutar da felicidade relativa e compatível ao nosso estado evolutivo.

Aliás, jamais conseguiremos galgar os degraus da nossa evolução, se não buscarmos incansavelmente um estado de equilíbrio que nos permita alimentar nosso espírito com um sentimento "mágico" chamado ALEGRIA.

A alegria alimenta nosso corpo físico de hormônios que nos revitalizam, aproximam de nós as pessoas que nos rodeiam, gera simpatias e energias boas.

A alegria contribui para que nossas dificuldades sejam amenizadas, aliviam nosso fardo de obrigações, alivia nossas tensões e nos proporciona momentos de êxtase, onde experimentamos o doce gosto da tal almejada felicidade.

Mas alegria não vem de graça. 
Ela não vem de fora para dentro, é gerada no nosso interior, no espírito e se transcende para a matéria, iluminando nossas vidas.

Há de se considerar, entretanto, que esta "usina de alegria" é movimentada pelo combustível do otimismo, da tolerância, da paciência, do amor e da fé.

Se acrescentarmos à este combustível o aditivo da caridade, o efeito será fortemente potencializado, e viveremos um estado de espírito onde a sublimidade do nosso padrão vibratório nos permitirá viver em PAZ.

Há de se tomar cuidado, entretanto com os contaminantes que podem comprometer o funcionamento desta nossa tão importante "usina".

Raiva, ressentimentos, revoltas, azedumes e destemperos emocionais atingem diretamente os "centros geradores da alegria" neutralizando seus efeitos e gerando energias opostas, ocasionando sentimentos de tristeza e desolação.

Que alimentemos, nós próprios,  nossa usina da alegria, se queremos ser felizes.



sexta-feira, 22 de julho de 2016

AO AMOR E A CARIDADE

Amanheci com frio.
Olhei no celular a temperatura lá fora, 14°C.
Logo pensei nas madrugadas dos irmãozinhos que vivem nas ruas.

Dormindo (ou tentando dormir) sob as marquises e viadutos, muito deles totalmente ao relento sobre as calçadas geladas, mal agasalhados, muitas das vezes doentes, quantos neste momento também acordaram famintos e tremendo se frio?

Penso na tristeza que deve ser levantar-se cedo sem nenhuma expectativa diante da vida, sem saber sequer se conseguirá se alimentar

Reflito sobre a difícil condição de se ver vítima de preconceitos de toda ordem, carente de afeto e atenção, à margem de uma vida digna.

Imagino o quanto o espírito precisa ser forte para suportar uma situação como esta sem fazer uma loucura, na tentativa (ilusória) de abreviar este sofrimento todo.

Mais uma vez agradeço à Deus por tudo que tenho e vibro para que os nossos corações se sintam sensibilizados com o sofrimento alheio.

Que nossas mãos se estendam e nossos corações se abram para a prática do bem, pois somente o amor materializado na prática da caridade será capaz de amenizar o sofrimento daqueles que nos rodeiam.

quinta-feira, 21 de julho de 2016

O GATO, O CACHORRO E O BURRO

Caminhavam tranquilamente por um extenso campo,  um gato, um cachorro e um burrinho.

Enquanto andavam, conversavam  sobre suas relações com os humanos.

O cachorro, falante e desinibido, ostentava seu título de ser "o melhor amigo do homem" e contava das suas brincadeiras e peripécias com a família da casa onde ele morava, nas viagens que fazia, nos passeios à praia. 
Dizia que os seus senhorios o escolheram como animal de estimação e o tratavam muito bem, enquanto abanava o rabo todo saliente.

O gato ouvia tudo em silêncio e desconfiado, com semblantes de desdém para a empolgação do cachorro. 

Só falou quando o chamaram a opinar e ele, seguro de si afirmou que também não tinha o que reclamar. 

Com ares de superioridade,  afirmava que no caso dele fora diferente. Que ninguém o adotou ou escolheu, foi ele quem escolheu a casa onde desejava morar e escolhera  bem o ambiente.

Completou dizendo que seus serviçais o cercavam de todo mimo e conforto, ofertando-lhe comida em abundância, uma caixinha confortável para dormir  e até mesmo uma parceira, uma linda gatinha, para lhe fazer companhia.

O burrinho ouvia tudo e refletia sobre cada um dos comentários dos amigos.

Ao ser chamado a testemunhar sobre o assunto, revelou que para ele as coisas não eram tão fáceis assim.

Que acordava cedo e logo já recebia aquela cangalha que pesada e dura lhe machucava o dorso durante todo o dia.

Que muitas das vezes passava fome e sede, pois aquele freio na boca além de machucar o impedia de se alimentar.
Completou afirmando que não  tinha nenhuma simpatia pelos patrões e que o seu sonho seria aplicar-lhes uns bons coices.

Enquanto conversavam, avistaram um cavaleiro que corria na direação deles.

O cachorro abana  o rabo alegre e grita alto: - Oba ! Ali vem meu senhorio, vou correr lá para brincarmos no pasto.

O gato olha desconfiado e diz: - Enfim este infeliz deste serviçal lembrou-se de que estava na hora dele vir me servir o almoço.

O burro, coitado, já  sentindo  o freio a lhe machucar a boca  e a cangalha a lhe ferir o dorso apenas pensa: - Pronto, acabou minha paz, chegou o algoz que tanto inferniza minha vida.

O homem chegou até eles, jogou um pedaço de pau longe e o cachorro já saiu correndo para buscar.

Pegou um potinho com ração e outro com água e começou a acariciar o gatinho, dando-lhe a refeição e o agradando com ridículos miados humanizados e fazendo voz fina.

Depois foi até o burro, colocou uma corda no pescoço do animal, puxou com brutalidade e o amarrou à uma árvore. 

Abriu um saco de alfafa seca  e enquanto o burro comia, com movimentos bruscos montava  a cangalha e preparava o cabresto e o freio para levá-lo à boca do bichinho, que angustiado sabia que aquele seria mais um dia difícil e sofrido.






segunda-feira, 18 de julho de 2016

A BUSCA DA PAZ INTERIOR

Vivemos tempos atribulados onde a desabalada carreira na busca da sobrevivência impulsiona as horas, tornando o tempo cada vez mais curto.

Vivenciamos disputas cada vez mais acirradas entre os homens.
Quer seja no trânsito ou nas calçadas, quer seja no labor ou no lazer, cada vez mais o que vemos são pessoas se acotovelando para conquistar seu espaço.

Essas disputas, muitas das vezes acaloradas e tensas, não raro resultam em rotas de colisão, produzindo querelas e infortúnios.

O ser humano, mergulhado nesta psicosfera contagiante, acaba se envolvendo de tal maneira neste redemoinho de emoções, que de descuida da vigilância necessária ao equilíbrio e se lança no abismo das inquietações.

E a inquietação recorrente acaba levando ao stress, que negligenciado resulta em depressão, mostrando um canal aberto para as influenciações  onde processos obsessivos encontram a porta aberta para sua instalação.

É indiscutível que cada um de nós é responsável pelo nosso padrão vibratório e pela atmosfera psíquica que nos rodeia.

O fato é que, ao nos descuidarmos da faxina da nossa casa mental, ela será fatalmente contagiada por formas pensamento nem sempre alvissareiras, que ocuparão lugar nas nossas preocupações, gerando consequências indesejáveis e comprometendo nossa paz.


O maior antídoto contra estas ameaças é o trabalho focado no bem e na busca do autoconhecimento.

A prática da caridade e a prece complementam os dispositivos de defesa que tanto necessitamos para a busca da tão almejada Paz Interior.

sexta-feira, 15 de julho de 2016

CHICO E O ATEU (republicação)

De certa feita, Chico Xavier encontrava-se em viagem no interior de Minas Gerais, quando o ônibus parou em um ponto de apoio.

Desceu e foi até o balcão para fazer um lanche e logo foi abordado por um grupo de pessoas que o reconheceram e queriam falar com ele.

Dentre aquelas pessoas que se aproximaram, estava um senhor de meia idade que o abordou com a seguinte pergunta:

"- Chico, sou ateu. 
Não acredito em nada disso que vocês espíritas professam. 
Nem em Deus, nem em espíritos, nem no céu, nem em plano espiritual.
Para mim morreu acabou. 
Apenas levo  a minha vida de acordo com meus próprios princípios. 
Sou honesto, trabalhador, não faço mal a ninguém e sempre que posso dedico-me a auxiliar o próximo.
O que você acha disso?"

O Chico, sorridente e amável se dirige àquele homem e responde:

"-Meu irmão, parabéns! 
Você está muito melhor do que nós, pois pratica a verdadeira caridade. 
Pratica o bem de forma totalmente desinteressada e sem nenhuma expectativa de recompensa.
Nós  temos muito a aprender com você."



Como se vê, não ė o rótulo religioso que nos faz melhor ou pior, mas nossa postura diante da vida e nossas ações voltadas para o bem.

quinta-feira, 14 de julho de 2016

A RÃ E A SERPENTE. (republicação)

Andando por uma estrada deserta, eis que um caminheiro se depara com uma cena inusitada.

Uma pequena rã encontrava-se paralisada diante de uma serpente.

Aterrorizada, não conseguia sequer movimentar-se para ao menos tentar se esquivar da ameaça do seu predador.

A serpente, esta preparava-se para o dar o bote certeiro e fatal no pequeno animal,  quando aquele caminheiro deu um grito e bateu com os pés no chão.

Com este movimento, a serpente desviou o olhar em direção ao ruído e esta fração de segundo foi  suficiente para que a rãzinha saltasse rapidamente para o meio do mato, fugindo da morte certa.

Aquele homem, feliz por ter salvo a rãzinha, deu continuidade à sua caminhada, deixando que a serpente também seguisse seu destino.

Que lições podemos tirar desta pequena história?

A serpente, que normalmente personifica a maldade e a inclemência, apenas buscava seu alimento para a própria subsistência, não pode ser considerada a vilã da história.

A rãzinha, que seria certamente devorada pela serpente, com certeza descuidou-se da sua atenção nas suas andanças por ali e quase caiu nas presas do predador por invigilância.

O caminheiro, alheio à todo este cenário, apenas estava no momento certo e no lugar certo (para a rãzinha), mas para a serpente foi um intruso que acabou atrapalhando sua refeição.

Assim também é a vida e assim também ocorre com todos nós.

Ora assumimos o papel da rãzinha incauta, que por negligência acaba se entregando às vulnerabilidades da caminhada e quase perecemos.

Outras vezes assumimos o papel da serpente, apenas na espreita da fraqueza alheia para darmos o bote.

Em outras, vestimos o personagem do caminheiro e interrompemos um fluxo natural da vida, favorecendo aquele lado com o qual nos simpatizamos.

Necessário entender, como jornadeiros do tempo e do espaço, que a vida segue seu rumo e cada qual tem seu papel neste grande teatro.

Seguirmos nossa jornada, procurando fazer evoluir nossas virtudes e minimizar nossas imperfeições, contribuindo sempre que necessário para a prática do bem e a disseminação da concórdia, sem julgarmos a postura de quem quer que seja.

Esta é a receita do bem viver e da busca do essencial.

quarta-feira, 13 de julho de 2016

O AMOR É O MELHOR ANTÍDOTO CONTRA O PRECONCEITO

Hoje gostaria de compartilhar uma bonita história (verídica) mais uma vez registrada nas nossas tarefas de distribuição de lanche e agasalhos pela equipe do Centro Espírita Nova Luz, de Belo Horizonte.

O fato ocorreu na Antiga "Praça da República", hoje Praça Afonso Arinos.

Este local faz parte do projeto original da cidade. 

É tradicional ponto de manifestações estudantis e próximo à alguns tradicionais "butecos" da cidade

Localizada entre a rua da Bahia e as avenidas João Pinheiro e Augusto de Lima, é cortada pela avenida Alvares Cabral.

Ali, junto aos degraus, existe um monumento com a célebre frase do compositor Rômulo Paes ("A minha vida é esta, subir Bahia e descer Floresta").
É neste local que aconteceu o que relatarei a seguir.

Utilizando os degraus daquele monumento como local para permanecer e dormir, é comum encontrarmos diversos irmãozinhos em situação de rua ali reunidos.

O cenário é sempre o mesmo. alguns embriagados ou drogados, em sono profundo.

Outros alegres e falantes também sob o efeito do álcool ou da droga.

Outros tristes e melancólicos em um canto isolado.

Materiais reciclados, roupas, cobertores, comida em recipientes improvisados (muitas vezes cheirando forte por já estar azeda), vasilhames vazios de cachaça (as famosas "barrigudinhas") e cães, muitos cães compartilham ali do mesmo ambiente.

Normalmente tem um líder do grupo que logo se manifesta e vem alegre nos cumprimentar e ali distribuímos os lanches, o suco, as roupas, os cobertores e a mensagem que sempre levamos conosco.

Não foi diferente no episódio que relatamos. 
Chegamos, fomos cumprimentados alegremente pelo líder, um jovem aparentando seus vinte e cinco anos, de bonito semblante.

Nem a barba por fazer, as roupas sujas e o forte odor etílico conseguiam comprometer a boa impressão do jovem agradável e sorridente que nos abraçou feliz.

Servimos a todos, entregamos os agasalhos e eis que o jovem, como de costume, pede para que nos todos nós, de mãos dadas, façamos uma prece.

Observo que um casal muito jovem permanece o tempo todo ali, na calçada, de pé, participando com eles de toda aquela movimentação (e também da prece)

A menina aparenta seus 18 anos, uma morena de cabelos longos e olhar sereno. Com dentes perfeitos e um lindo sorriso, brinca o tempo todo com os irmãozinhos sujos e maltrapilhos, sem nenhum preconceito, tratando-os com respeito e dignidade.

O rapaz, um belo jovem, aparenta ser um pouco mais velho, talvez conte com seus 22 anos. 

Também solícito e agradável, interage com a turma toda, com invejável simpatia.

Todos se concentram, o líder do grupo faz uma bonita prece (como sempre o faz). Ao término da prece  nos preparamos para seguir adiante com o objetivo de atender à outros irmãos que ficam um pouco mais abaixo, na direção da Rua João pinheiro.

Antes porém de seguir, dedico alguns minutos para conversar com o jovem e bonito casal.

Descubro que eles não estavam ali em algum tipo de campanha, não representavam nenhuma instituição assistencial.

Estavam ali por opção mesmo.

Saíram para namorar, ao passar por ali se sensibilizaram com a situação do pessoal reunido na praça.

Resolveram parar apenas para dar atenção à eles. 

Optaram por parar ali e conversar com eles, apenas isso.
Um casal jovem, aparentando uma condição social confortável interrompe o passeio (e o namoro) para conversar e dar atenção e carinho à moradores em condição de rua, malcheirosos, drogados, embriagados e maltrapilhos.

Eu os parabenizei. Abracei à cada um deles e saí dali com os olhos marejados.

Cenas como esta me convencem à cada dia mais que, diferente do que muita gente pensa,  a humanidade tem jeito sim e a gente tem provas todos os dias disso.

Fui para casa pensando na cena e hoje compartilho a experiência com os prezados leitores deste nosso blog.



terça-feira, 12 de julho de 2016

CENAS DA VIDA (OU DA LEI DE RETORNO)

Em um lugar distante da civilização, junto às matas  e dos rios vivia um ermitão.

Optara por viver só, na solidão daquela floresta, pois perdera as esperanças na raça humana, por ele considerada sádica e impiedosa.

Vivenciara uma experiência amarga, onde perdera um ente muito querido em um triste episódio que ainda o atormentava dia e noite.

De gênio impetuoso, se permanecesse na cidade,  em redor do infeliz cenário onde  o teatro da vida lhe infelicitara, seria capaz de cometer um desatino, ceifando também a vida do verdugo que tanto o fez sofrer.

E assim, aquele ermitão  viveu naquela gruta escondida em meio à floresta por longos e demorados anos.

No entanto, mesmo diante de uma natureza exuberante que causaria exclamações até ao mais insensível dos homens, aquele indivíduo vivia atormentado e infeliz.

Remoendo as mágoas e a inconformação, rememorava todas as noites, no momento em que se recolhia ao canto da gruta para dormir, as terríveis cenas do seu infortúnio.

A filha no leito do hospital, despedindo-se nos seus últimos momentos,  tornara-se uma cena que se fixara na sua mente. Aquilo para ele era um verdadeiro tormento e o torturava impiedosamente.

O que mais o revoltava era o fato dela ser uma moça bonita e saudável, cuja vida fora ceifada prematuramente porque o marido, mergulhado na promiscuidade e na infidelidade conjugal, a contaminara como uma impiedosa doença que aos poucos foi ruindo sua saúde.

Estas lembranças o faziam chorar todos os dias. Chorava até adormecer e sonhava com tudo aquilo acontecendo de novo. Não tinha paz nem dormindo.

Um dia foi acordado na madrugada com um estrondo e um clarão em meio à floresta.

Não era longe dali e de imediato correu até o local. Avistou um pequeno avião em chamas, dois corpos já sem vida que foram lançados longe e não muito distante algo se mexia.

Correu até lá e constatou que era um dos ocupantes daquele avião. Com o rosto queimado e gemendo, ainda estava vivo. Seu braço sangrava muito e ele parecia muito mal.

Depressa o socorreu, levou-o até a gruta. Lavou as feridas, estancou o sangue e o agasalhou junto à fogueira.

Ao terminar seu trabalho é que se deu conta de que estava também totalmente ensanguentado, nem suas roupas se salvaram, teve que queimá-las.

Cansado, acabou adormecendo junto com o rapaz do avião, e acordaram com a luz do sol já entrando pela gruta.

Na claridade do dia foi que conseguiu ver direito, horrorizado, a séria queimadura do rosto desfigurado daquele moço

Imaginou logo que ele não duraria muito ali. Sem recursos, uma infecção certamente o acometeria e ele não teria como fazer nada.

Mesmo assim, com os cuidados e atenção do ermitão, o rapaz, que além do rosto queimado ainda tivera uma lesão na coluna, ficando paralítico, ainda durou três longos e sofridos meses, vindo a falecer após este período.

Foram noventa dias de dedicação total à um jovem desconhecido que movimentava apenas a cabeça, que ficara cego devido ao fogo e que não pronunciava uma palavra sequer.

O ermitão, que já se afeiçoara ao jovem, sentiu um misto de alívio e tristeza, fez uma cova e o sepultou entre lágrimas.

A partir daquele episódio, aquele homem começou a sentir um estranho desânimo. 

Ficava doente constantemente, doenças que nunca o tinham afetado.

E foi através de uma dessas doenças, uma pneumonia muito grave que ele, sem recursos naquele lugar deserto e longe de tudo e de todos, também acabou partindo deste plano.

Ao chegar ao  Plano Espiritual, ainda sem entender muita coisa, foi atendido por uma equipe de espíritos atenciosos que o levaram até uma câmara de recuperação. Ele havia lido alguns livros Espíritas, assistido algumas palestras no Centro, e logo compreendeu o que havia ocorrido.

Algum tempo depois, já restabelecido e equilibrado, recebe com euforia a visita da filha no hospital. A emoção foi grande, abraçaram-se, beijaram-se e ela, sorridente e dócil, convida o pai para ver um filme.

Neste filme ele vê um casal envenenando um jovem, numa terrível trama passional. 

Após terminar aquela exibição ele enfim compreende tudo.

Aquele casal era ele e sua filha e o jovem envenenado era o marido dela, aquele rapaz que caiu do avião naquela selva e foi socorrido por ele.




segunda-feira, 11 de julho de 2016

O OLEIRO E O BURRINHO

Era uma vez uma pequena olaria.

E esta olaria produzia pequenos tijolos em uma também pequena aldeia.

O oleiro trabalhava sozinho na lida, pois os filhos ainda eram todos pequenos e ele não tinha condições de pagar nenhum funcionário para ajudá-lo.

O único ajudante que tinha era um burrinho (pequeno também) , que o auxiliava a amassar o barro e também transportava sua preciosa matéria prima até o local onde produzia seus tijolinhos.

No terreno ao redor da olaria existiam grandes buracos, de onde o oleiro retirava o barro. 

Como praticamente não circulava ninguém por aqueles campos, os buracos acabavam ficando abertos, pois o oleiro não via nisso nenhum risco.

Um belo dia o burrinho, encantado com uma mulinha que estava do outro lado da cerca, distraiu-se e acabou caindo num dos buracos.

Não teve ferimentos graves, pois a terra fofa no fundo do buraco acabou absorvendo o impacto, mas ficou ali preso. O buraco era fundo demais para ele conseguir sair sozinho.

Estava longe e por mais que zurrasse (sim, porque a "voz dos burros" chama-se zurro), ninguém o ouviu.

O pobre burrinho, devido aquele pequeno descuido ao ser flechado pelo cupido equídeo, ali ficou a noite toda, com fome, sede e estressado por sair dali.

No outro dia o  oleiro acordou de madrugada, como sempre o fazia, e ao chegar na olaria deu por falta do seu companheiro de trabalho.

Não tardou a encontrar o bichinho dentro do buraco, que ao vê-lo logo ficou de pé e começou a zurrar (lembro novamente que esta palavra um pouco estranha é a "voz" dos burros).

O oleiro não hesitou, correu até sua casa, pegou uma pá e retornou até o buraco.

Ali chegando começou a pegar terra do lado de fora do buraco e jogar sobre o burrinho.

Indignado o burrinho ficou a questionar o motivo do seu dono querer enterrá-lo vivo, depois de tantos anos de serviços prestados.

Enraiveceu-se, tremeu de revolta e à cada pazada de terra que recebia,  pulava, zurrava e  se agitava (na verdade ele queria mesmo era sair dali e dar um coice no ingrato dono).

Quando fazia isso, derrubava toda a terra que havia caído sobre seu lombo e acabava pisando sobre a terra que derrubara.

Depois de incontáveis pazadas e incontáveis pulos...
Após horas de trabalho do oleiro, o buraco estava cheio e o burrinho saiu alegre e saltitante, sorrindo alegre (burro sorri?).

Assim, o burrinho entendeu que na verdade  o dono não estava querendo enterrá-lo e sim teve uma idéia brilhante para retirá-lo dali. Retribuiu a gentileza do oleiro com generosas lambidas melecadas (argh!).

Moral da história:

"Nem sempre as pessoas que pensamos que estão tentando nos enterrar  tem esta intenção. Muitas das vezes, a suposta ameaça é apenas uma forma de nos tirar do buraco."









domingo, 10 de julho de 2016

ANDANDO EM CÍRCULOS (republicação)

Caminhava um andarilho por uma estrada longa e deserta, quando avistou à sua frente um outro caminheiro na direção contrária.

Parou e perguntou ao mesmo se de onde este viera, existia algo que realmente justificasse que ele prosseguisse naquela direção, pois caminhava há dias e nada de interessante encontrara.

Animou-se quando foi informado que encontraria um belo rio com cachoeiras e lindos pontos de água tranqüila para se banhar.

Ficou ainda mais empolgado quando aquele desconhecido o informou que existia também às margens do rio, um pomar com frutas diversas e deliciosas e um vale com paisagens de tirar o fôlego.

Com essa expectativa, aquele andarilho animou-se, voltaram suas energias, os olhos brilharam de vibração e ele seguiu adiante despedindo-se do irmão de estrada.

Caminhou por três longos dias e nada encontrou. Suas provisões já estavam se esgotando e o desânimo tomava conta do seu espírito, quando avistou ao longe, alguém vindo em sua direção.

Para sua surpresa, era a mesma pessoa. Parou e fez a mesma pergunta e teve as mesmas respostas daquele indivíduo que o tratou como se nunca tivessem se encontrado.

Percebeu então que andava em círculos, pois aquela estrada não o levaria a lugar nenhum e aquele indivíduo era um louco.

Assim é nossa vida.
Quando ficamos perdidos, andando em círculos com nossas indefinições, muitas das vezes perdemos a noção da razão e damos ouvidos aos tolos, marcando passo no mesmo lugar, e não chegamos a lugar algum.

sexta-feira, 8 de julho de 2016

PERSEVERANÇA NA BUSCA DO ESSENCIAL (republicação)

É certo que sempre terei de conviver com irmãos que pensam diferente de mim.
No entanto, o meu dever é aceitá-los e compreendê-los, pois não sou o dono da verdade.

É natural que companheiros de jornada ajam diferente de mim e tenham posturas que e às vezes me desagradam.
No entanto, minha tolerância precisa ser exercitada, no sentido de não julgá-los, mas aceitá-los com humildade.

É inevitável que no cotidiano, nem sempre as coisas caminhem da forma que almejo e julgo ser a adequada para minha existência.
Entretanto, a paciência, a ponderação e a resignação devem ser sempre minhas parceiras na recondução da minha vida, quando isso vier acontecer.

É comum errarmos no transcorrer de nossa jornada, fraquejando nos pontos mais vulneráveis das nossas imperfeições.
No entanto,  faz-se necessário erguer a cabeça para novo recomeço, com persistência,  para nova tentativa de acerto.

A dinâmica da vida exige de nós perseverança e disciplina na busca do essencial.
Desânimo e lamentações nada contribuirão neste processo.
Quando o infortúnio ou a contrariedade nos visitarem, jogando-nos ao chão, sigamos a orientação de Jesus ao paralítico:
"Levanta-te e  anda"

quinta-feira, 7 de julho de 2016

A BÍBLIA E O ATEU

Conversava com um amigo que se dizia ateu.

Pessoa inteligente, sensível e de boa índole, este meu amigo, para justificar sua incredulidade na divindade, utilizava trechos bíblicos e dizia:

- Se a Bíblia é mesmo a palavra deste "Deus" que vocês acreditam, é estranho que ela própria seja o maior estímulo para que desacreditemos nele, pois apresenta um "Deus" com todas nossas imperfeições.

E acrescentava:

- Como acreditar num ser maior, cujas manifestações de ira, desejo de vingança e insensibilidade superam até mesmo as do seres humanos?"

Muitos considerarão as palavras do meu amigo uma heresia, mas se deixarmos de lado os dogmas e submetermos suas considerações ao crivo da razão, constataremos que em tese, ele tem razão.

Aliás, aí está justamente o grande objetivo da fé raciocinada, passar por cima de paradigmas, de crendices e de limitações dogmáticas que prendem os profitentes das religiões às interpretações ao pé da letra, que tanto mal tem feito à humanidade.

A própria Igreja admite que a revelação divina só veio até nós por meio de mãos humanas, portanto o Livro Sagrado não é "a palavra de Deus" e sim "contém ensinamentos inspirados por Deus". Existe uma grande diferença nisso.

Outro ponto curioso levantado pelos estudiosos no assunto é que a Bíblia teve um tempo de composição e escrita até sua conclusão de aproximadamente 1600 anos (de 1513 AEC a cerca de 98 EC) com a participação de  aproximadamente 40 escritores.

Além disso passou por incontáveis versões, revisões, foi reescrita, copiada, recopiada, sofreu alterações diversas de acordo com as tradições, enfim, é um livro importantíssimo, mas não pode ser interpretado ao pé da letra,necessita de um estudo contextual e desapaixonado.

Assim, sendo, dentro da ótica espírita, consideramos que a Bíblia não é um erro, os homens é que se equivocaram ao interpretá-la (Livro dos Espíritos - Item 59).

A Bíblia, evidentemente, encerra fatos que a razão, desenvolvida pela ciência não poderia hoje aceitar e outras que nos parecem estranhos e até mesmo absurdos e derivam de costumes que já não são os nossos. 

Haveria, entretanto, imparcialidade em não se reconhecer que ela encerra grandes e belas coisas. A alegoria ocupa, ali, considerável espaço, ocultando sob o véu sublimes verdades, que se patenteiam, desde que de desça ao âmago do pensamento, pois logo desaparece o absurdo. (A Gênese, Item 6).

Desta forma, podemos dizer que nosso amigo ateu, se buscou na Bíblia o embasamento para se tornar cético, certamente se ateve "à letra que mata", ignorando os importantes ensinamentos que ali estão contidos.


É importante, como profitentes da Terceira Revelação, entendermos que o Espiritismo não age por exclusão, mas por síntese, ou seja, não negamos a Bíblia, pelo contrário, estudamos, analisamos e procuramos nela separar o que é divinamente inspirado do humanamente concebido.

O Espírita sincero e esclarecido não é um simples leitor ou aquele que decora textos para utilizar em debates ideológicos.

Precisa ser,  verdadeiramente, um estudante das Escrituras.
Aquele que procura resgatar o Espírito Vivo da mensagem bíblica.
Que procura resgatar a consciência daqueles que se apegam à Letra Morta que escraviza e forma fanáticos divorciados da razão e do bom senso.

 Lembremos Paulo de Tarso. A letra mata, o Espírito é que vivifica.







quarta-feira, 6 de julho de 2016

AS MAZELAS ALHEIAS

Hoje, ao acordar de manhã, percebi a temperatura bem baixa.

Na faixa dos 14°C, ao sair do quarto, o vento que entrava pela fresta da janela da área de serviços me causou arrepios, apesar do agasalho que usava.

Fui até o banheiro e entrei debaixo de um chuveiro delicioso e quentinho. Que sensação mais agradável!

Depois o cafezinho que acabara de sair e o pãozinho com manteiga completaram o ritual das minhas manhãs.

Durante todo o tempo fiquei pensando nos irmãozinhos que visitamos ontem à noite. Como estariam?

Dormindo ao relento, passando frio, sujos, famintos, muitos deles doentes.

Há quanto tempo não desfrutam de uma caminha segura e confortável, de um chuveiro quente, de um cafezinho da manhã caprichado?

E nós, que temos isso todos os dias, achamos normal e corriqueiro e não damos valor à essas bênçãos que diariamente recebemos.

É por este motivo que precisamos nos aproximar das mazelas humanas, pelo menos em um momento de nossas vidas.

Testemunhar o sofrimento alheio e trabalhar para amenizá-los é sublime, nos eleva e nos faz refletir sobre a importância da prática da caridade para nosso aprendizado.

terça-feira, 5 de julho de 2016

ESTRADA DA VIDA

No auge da minha adolescência, apreciava muito uma determinada  dupla sertaneja.

Com um instrumental moderno e arranjos inovadores, esta dupla foi a primeira a adotar bateria, contrabaixo e guitarras nas músicas sertanejas.

Foi uma inovação que fez sucesso e a dupla Milionário e José Rico fez jus ao nome, fizeram mesmo fortuna.

A primeira música que arrebentou nas paradas foi "Estrada da Vida", e começava assim:

" Nesta longa estrada da vida,
Vou correndo e não posso parar,
Na esperança de ser campeão
Alcançando o primeiro lugar."

Hoje, ao ouvir esta música, ela me remete à uma reflexão importante, pois consigo contextualizá-la sob uma outra ótica.

Observo que a grande maioria dos seres humanos, de fato, corre o tempo todo sem parar,  na ânsia de obter sucesso.

Entretanto, o foco sempre está direcionado para as conquistas no terreno da matéria.

Sucesso profissional, posse de bens materiais, sede de poder e vantagens financeiras estão sempre nas prioridades do ser humano encarnado que muitas das vezes se esquece do seu lado espiritual.

E a própria música alerta na sua próxima estrofe:

"Mas o tempo cercou minha estrada,
E o cansaço me dominou,
Minhas vistas se escureceram,
E o final desta vida chegou."

Observamos que não são poucos os casos em que acontece exatamente isso.

Focado na matéria, na conquista dos  bens materiais, o ser humano chega ao final da sua encarnação cansado, abatido e muitas das vezes frustrado.

Por não ter focado na sua essência, levou uma vida vazia, movimentou-se apenas na superfície do lago da sua existência, não ousou mergulhar nas águas profundas do seu autoconhecimento.

Vale a reflexão.
O que estamos priorizando na nossa "Estrada da Vida"?




segunda-feira, 4 de julho de 2016

O ESPÍRITA E A PRÁTICA DA CARIDADE

A "Equipe do Pãozinho" do Centro Espírita Nova Luz encontrava-se ao final da tarefa naquela terça feira fria.

Naquela praça sempre ficavam diversos moradores em situação de rua, os quais já tínhamos atendidos. Precisávamos atravessar aquela movimentada avenida para atender uma senhora que dormia sob uma marquise, na calçada oposta à que estávamos.

Uma das tarefeiras que estava conosco sempre mencionava o fato daquele ponto estar infestado de enormes ratazanas que atravessam à nossa frente sem nenhum receio, para procurar comida num monte de lixo que sempre acumulavam ali. 

De fato, mesmo do lado oposto da rua,  avistávamos os bichinhos correndo de um lado para outro, também na busca do seu alimento (muitas delas acompanhadas de seus filhotinhos).

Pensei que embora causassem repugnância e medo por conta da possibilidade de transmitirem doenças, ali também estavam animaizinhos lutando pela sua sobrevivência, vivenciando seu estágio dentro do processo evolutivo, até os achei bonitinhos, correndo apressadamente sobre a calçada.

Absorto com a observação dos bichinhos, fui alertado por um dos amigos da equipe que não atravessássemos ainda a rua, que vindo em nossa direção, próximo à um ponto de ônibus,  aproximava-se um jovem que aparentava precisar de ajuda.

Com os cabelos em desalinho, roupas e mãos sujas, ele caminhava conversando com os amigos para nós invisíveis, gesticulando e fazendo expressões de desagrado.

Paramos o rapaz, oferecemos o lanche e ele de pronto aceitou, agradecendo e dizendo que que era a primeira refeição que fazia naquele dia (já eram quase 22h).

Comeu dois pães, tomou dois copos de suco, agradeceu e continuo sua jornada, gesticulando e conversando com os amigos (que embora não enxergássemos percebíamos que o acompanhavam o tempo todo).

Enquanto isso acontecia, percebi que três simpáticas senhoras, de meia idade, nos observavam no ponto de ônibus. Sorridentes olhavam para nós, conversavam entre si e sorriam.

Quando o rapaz se foi, uma delas não se conteve, aproximou-se de nós sorridente e perguntou:

- De que instituição vocês são?

Quando respondemos que éramos Espíritas e que  pertencíamos ao Centro Espírita Nova Luz, a simpática senhora se voltou para as amigas, no mesmo instante e lhes falou:

- Viu! Não falei? Eles são Espíritas. 

E virando-se para nós completou:

- Trabalho lindo, vocês estão de parabéns. Admiro os Espíritas porque vocês são os que mais praticam a caridade.

Agradecemos, deixamos com cada uma delas uma mensagem e atravessamos a rua para atender a irmãzinha que dormia do outro lado, com cuidado para não pisar nos ratos.

Saímos dali e eu fiquei refletindo sobre a grande responsabilidade que assumimos quando nos propomos a seguir os postulados Espíritas. 

Se mesmo perante a sociedade, que muitas das vezes ainda alimenta preconceitos com os profitentes da Doutrina dos Espíritos, somos reconhecidos desta forma, pergunto se estamos, de fato, fazendo jus à este conceito. 

Vale a reflexão, se estamos cumprindo a nossas parte como deveríamos e sendo exemplos da prática da benevolência, da paciência, da indulgência.

Se estamos, de fato, praticando a caridade como deveríamos.