quinta-feira, 7 de julho de 2016

A BÍBLIA E O ATEU

Conversava com um amigo que se dizia ateu.

Pessoa inteligente, sensível e de boa índole, este meu amigo, para justificar sua incredulidade na divindade, utilizava trechos bíblicos e dizia:

- Se a Bíblia é mesmo a palavra deste "Deus" que vocês acreditam, é estranho que ela própria seja o maior estímulo para que desacreditemos nele, pois apresenta um "Deus" com todas nossas imperfeições.

E acrescentava:

- Como acreditar num ser maior, cujas manifestações de ira, desejo de vingança e insensibilidade superam até mesmo as do seres humanos?"

Muitos considerarão as palavras do meu amigo uma heresia, mas se deixarmos de lado os dogmas e submetermos suas considerações ao crivo da razão, constataremos que em tese, ele tem razão.

Aliás, aí está justamente o grande objetivo da fé raciocinada, passar por cima de paradigmas, de crendices e de limitações dogmáticas que prendem os profitentes das religiões às interpretações ao pé da letra, que tanto mal tem feito à humanidade.

A própria Igreja admite que a revelação divina só veio até nós por meio de mãos humanas, portanto o Livro Sagrado não é "a palavra de Deus" e sim "contém ensinamentos inspirados por Deus". Existe uma grande diferença nisso.

Outro ponto curioso levantado pelos estudiosos no assunto é que a Bíblia teve um tempo de composição e escrita até sua conclusão de aproximadamente 1600 anos (de 1513 AEC a cerca de 98 EC) com a participação de  aproximadamente 40 escritores.

Além disso passou por incontáveis versões, revisões, foi reescrita, copiada, recopiada, sofreu alterações diversas de acordo com as tradições, enfim, é um livro importantíssimo, mas não pode ser interpretado ao pé da letra,necessita de um estudo contextual e desapaixonado.

Assim, sendo, dentro da ótica espírita, consideramos que a Bíblia não é um erro, os homens é que se equivocaram ao interpretá-la (Livro dos Espíritos - Item 59).

A Bíblia, evidentemente, encerra fatos que a razão, desenvolvida pela ciência não poderia hoje aceitar e outras que nos parecem estranhos e até mesmo absurdos e derivam de costumes que já não são os nossos. 

Haveria, entretanto, imparcialidade em não se reconhecer que ela encerra grandes e belas coisas. A alegoria ocupa, ali, considerável espaço, ocultando sob o véu sublimes verdades, que se patenteiam, desde que de desça ao âmago do pensamento, pois logo desaparece o absurdo. (A Gênese, Item 6).

Desta forma, podemos dizer que nosso amigo ateu, se buscou na Bíblia o embasamento para se tornar cético, certamente se ateve "à letra que mata", ignorando os importantes ensinamentos que ali estão contidos.


É importante, como profitentes da Terceira Revelação, entendermos que o Espiritismo não age por exclusão, mas por síntese, ou seja, não negamos a Bíblia, pelo contrário, estudamos, analisamos e procuramos nela separar o que é divinamente inspirado do humanamente concebido.

O Espírita sincero e esclarecido não é um simples leitor ou aquele que decora textos para utilizar em debates ideológicos.

Precisa ser,  verdadeiramente, um estudante das Escrituras.
Aquele que procura resgatar o Espírito Vivo da mensagem bíblica.
Que procura resgatar a consciência daqueles que se apegam à Letra Morta que escraviza e forma fanáticos divorciados da razão e do bom senso.

 Lembremos Paulo de Tarso. A letra mata, o Espírito é que vivifica.







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