Caminhavam tranquilamente por um extenso campo, um gato, um cachorro e um burrinho.
Enquanto andavam, conversavam sobre suas relações com os humanos.
O cachorro, falante e desinibido, ostentava seu título de ser "o melhor amigo do homem" e contava das suas brincadeiras e peripécias com a família da casa onde ele morava, nas viagens que fazia, nos passeios à praia.
Dizia que os seus senhorios o escolheram como animal de estimação e o tratavam muito bem, enquanto abanava o rabo todo saliente.
O gato ouvia tudo em silêncio e desconfiado, com semblantes de desdém para a empolgação do cachorro.
Só falou quando o chamaram a opinar e ele, seguro de si afirmou que também não tinha o que reclamar.
Com ares de superioridade, afirmava que no caso dele fora diferente. Que ninguém o adotou ou escolheu, foi ele quem escolheu a casa onde desejava morar e escolhera bem o ambiente.
Completou dizendo que seus serviçais o cercavam de todo mimo e conforto, ofertando-lhe comida em abundância, uma caixinha confortável para dormir e até mesmo uma parceira, uma linda gatinha, para lhe fazer companhia.
O burrinho ouvia tudo e refletia sobre cada um dos comentários dos amigos.
Ao ser chamado a testemunhar sobre o assunto, revelou que para ele as coisas não eram tão fáceis assim.
Que acordava cedo e logo já recebia aquela cangalha que pesada e dura lhe machucava o dorso durante todo o dia.
Que muitas das vezes passava fome e sede, pois aquele freio na boca além de machucar o impedia de se alimentar.
Completou afirmando que não tinha nenhuma simpatia pelos patrões e que o seu sonho seria aplicar-lhes uns bons coices.
Enquanto conversavam, avistaram um cavaleiro que corria na direação deles.
O cachorro abana o rabo alegre e grita alto: - Oba ! Ali vem meu senhorio, vou correr lá para brincarmos no pasto.
O gato olha desconfiado e diz: - Enfim este infeliz deste serviçal lembrou-se de que estava na hora dele vir me servir o almoço.
O burro, coitado, já sentindo o freio a lhe machucar a boca e a cangalha a lhe ferir o dorso apenas pensa: - Pronto, acabou minha paz, chegou o algoz que tanto inferniza minha vida.
O homem chegou até eles, jogou um pedaço de pau longe e o cachorro já saiu correndo para buscar.
Pegou um potinho com ração e outro com água e começou a acariciar o gatinho, dando-lhe a refeição e o agradando com ridículos miados humanizados e fazendo voz fina.
Depois foi até o burro, colocou uma corda no pescoço do animal, puxou com brutalidade e o amarrou à uma árvore.
Abriu um saco de alfafa seca e enquanto o burro comia, com movimentos bruscos montava a cangalha e preparava o cabresto e o freio para levá-lo à boca do bichinho, que angustiado sabia que aquele seria mais um dia difícil e sofrido.
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